terça-feira, 16 de novembro de 2010

bilhete de comboio


dirigi-me à estação depois de uma longa viagem. entre trocas de comboios e bafos de cigarro deparei-me com um casal de miúdos que faziam promessas e juras como se o tempo voasse em segundos e a retorna de um olhar alcançasse dificuldade no futuro. enquanto se ouvia a buzina do comboio, uma estridente enquanto a linha se juntava aos carris o miúdo aproximava-se lentamente seguido pela rapariga que tremulamente lhe proferia palavras ao ouvido. apesar da idade, loucuras de amor fazem-nos parecer crianças e aqueles sem dúvida não eram excepção. o miúdo subia os degraus e ao mesmo tempo escolhia o lugar perto da janela para ver a "donzela". A miúda encostava-se no "parapeito", junto à linha e debruçava-se sobre esta enquanto que ele perfazia um coração com o dedo indicador no vidro. Parecia que o mundo terminava ali até ao próximo telefonema que fizessem, provavelmente logo após o comboio partir. E partiu, o comboio partiu e também o meu coração se desfez com aquela despedida de fim-de-semana. Não iriam existir beijos, nem abraços, nem qualquer afecto ou carinho pessoalmente, só sms, telefonemas infindáveis até à chegada da próxima segunda-feira. E segunda-feira é hoje e já os imagino a jogar monopólio ou outro jogo qualquer que os faça partilhar uma cumplicidade que só obtemos quando somos crianças e que é desenvolvida pelo verdadeiro amor. vi naqueles olhos esperança, vi futuro nos seus amuos do dia a dia, nas suas loucuras comuns, nos divertimentos mais estranhos. vi amor, amor que guardo em mim em lembrança, com meio ciúme de quem quer o mesmo e que vai tendo um pouco de cada vez. vi crianças que um dia hão-de ter miúdos e eu hei-de contar-lhes que os pais deles eram como eles, inocentes e genuínos. que provas de amor não eram necessárias, porque o seu quotidiano já o demonstrava o suficiente. acaba-se a ponta do cigarro, apago-o e entro no comboio. adormeço num turbilhão de sensações que me levam à minha terra, esse destino mais que desejado. atravesso a rua e eis o que vejo? a miúda ao telefone com o seu rapazinho, proferindo as "verdadeiras palavras de amor".

2 comentários:

Anónimo disse...

um dia todas seremos essa miuda!

Liou Duvinini disse...

Interesante...

(in)sanidade escrita

Bem vindo ao mundo das verdades e mentiras de Trice ;)
Não penses que depois de ler qualquer um dos textos da Patrícia a conheces seja um pouco que seja, ela é demasiado ocupada para pensar no que escreve e só escreve o que (pensa) que sente. Já aconteceu não sentir. Por isso é que o blog se apelida de #Verdades e mentiras do dia 0#