quarta-feira, 25 de março de 2009

sala de espera


Hoje, vive como não existisse um amanhã. Estava no consultório, mais propriamente na sala de espera quando me apercebi da efemeridade da vida. Tão cedo quem haveria de dizer que neste momento(naquele) estaria à espera de ser atendida para marcar uma ciurgia ao joelho? Quando tudo parece correr bem, lá vem algo que estraga o esquema e te deixa com um turbilhão de novos problemas e peripécias.
Cheguei cedo e como demorei a ser atendida vi-me fechada dentro de quatro paredes que um dia já foram brancas a reparar na quantidade de pessoas que estavam na mesma situação. A verdade é que uma grande parte era de uma faixa etária mais velha e que para aquelas pessoas aquilo já se tornara rotina. Ora numa daquelas conversas de circunstância deparei-me com uma senhora com os seus cinquenta e muitos, quase sessenta que me dizia:
"Sabe? Nós quando somos novos queremos ser mais velhos e chega a uma idade que nos apercebemos que passou tudo muito depressa. Eu quando era mais nova só queria fazer 21 anos. Sabe que era a idade para atingir a maioridade no meu tempo.. E agora já nada tenho a viver, só tenho de disfrutar do que já vivi, recordações e momentos novos. Tenho dois filhos, um cá em Lisboa, que vejo mais, e um em Londres. De vez em quando lá o visito e fico uns tempos, mas só o de Lisboa é que vejo um pouco mais. Coitado, ele embarca muito, nem o vejo tanto tempo, mas por ser de Lisboa ainda vejo mais do que o outro de Londres. Chega a uma altura que os deixamos partir, já não fazem parte da nossa vida como gostaríamos. Mas é mesmo assim, nós educamo-los e chega um dia que é a vida deles, não mais a nossa. É uma tristeza ao início, porque não estamos habituadas. Nós mães sofremos muito por eles. E agora que já fiz tudo o que tinha a fazer na vida apenas vivo."

Ora após esta perspectiva fiquei ciente de que devo apreciar tudo o que a vida me oferece. É óbvio que não concordo que haja uma altura em que já tenha "feito tudo", mas acredito que haja uma altura em que devamos "Só viver" os momentos. E que talvez não me queira desligar assim da minha mãe, o dia em que o fizer espero que ela não sinta que a abandonei, ou que a missão dela na Terra esteja completa. Espero que ela seja tão feliz quanto Deus a permita e o coração bondoso da minha querida mamã.
E é facto assumido que passei já muito tempo(perdido) a pensar apenas em ultrapassar o presente em vez de vivê-lo.
Mas para quê isto tudo? Para que quando chegar aos meus cinquenta, sessenta, souber no meu coração e alma que fiz tudo o que me tornou a mulher que quero ser, que realizei os meus sonhos e que ainda, nessa altura, tenha ambições concretizáveis e que seja uma pessoa realizada.

Ainda bem que existem conversas de circunstância, que nos fazem saborear momentos da vida!

2 comentários:

'stracci disse...

A primeira parte dessa conversa é incrivelmente parecida com uma conversa que eu tive ontem, no centro de saúde da minha terra, com um senhor de idade já avançada! :O

Anónimo disse...

Eu deparo-me mais com o olhar penoso das pessoas. Parece que a vida é aquilo que vêem e nada mais há a tentar viver. Muitas vezes penso que o ciclo "natural" não passa da rotina que nós bem sabemos o que irá ser. E estarmos aqui a pensar no que seremos com 50 anos, era mentirmos à vida de que chegaremos lá. Há tempo para tudo, haja vida até explodir de vez.

Beijinho

(in)sanidade escrita

Bem vindo ao mundo das verdades e mentiras de Trice ;)
Não penses que depois de ler qualquer um dos textos da Patrícia a conheces seja um pouco que seja, ela é demasiado ocupada para pensar no que escreve e só escreve o que (pensa) que sente. Já aconteceu não sentir. Por isso é que o blog se apelida de #Verdades e mentiras do dia 0#